Com sua forma épica e jogo genial de palavras, Construção, de Chico Buarque, lançada em 1971, segue atual
Por Bruno Marques
Amanhã, 27 de abril, é celebrado o Dia Internacional em Memória às Vítimas de Acidente de Trabalho. O Brasil é o 4º país do mundo com o maior número de acidentes no trabalho do mundo e tem o equivalente a um acidente a cada 48 segundos, segundo site especializado no assunto.
Então, sobre este tema, a coluna musical de hoje não poderia ser outra senão a genial Construção, de Chico Buarque.
A estupenda canção foi lançada em álbum de mesmo nome, em 1971, ou seja, há 53 anos, e continua atual.
Formato único e genial
A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra.
Com harmonia complexa, os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva. A produção ficou a cargo de Roberto Menescal. Quanto ao gênero, a faixa é classificada como MPB, mas tem claras influências de progressivo e psicodélico.
A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar no Brasil, em meio à censura e perseguições indiscriminadas.
Construção já foi eleita em enquete da Folha de S. Paulo como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos e, por eleição na revista Rolling Stone, a “maior canção brasileira de todos os tempos”.
Em um formato épico, Construção narra a história de um trabalhador de obra morto no exercício de sua profissão, em seu último dia de vida. É uma inteligente e requintada crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista moderna e urbana, reduzido à condição mecânica.
Quando esse trabalhador (“um pacote flácido/tímido/bêbado”) morre, a constatação é de que sua morte apenas atrapalha o “tráfego”, o “público” ou o “sábado”.