Sistema tradicional preserva florestas de araucária, valoriza a cultura indígena e impulsiona a economia rural. Brasil se destaca internacionalmente com cultivo sustentável.


O cultivo tradicional da erva-mate sombreada nas florestas de araucária do Paraná foi oficialmente reconhecido nesta quinta-feira (22) como Patrimônio de Sistemas Agrícolas de Importância Global (GIAHS, na sigla em inglês) pela Organização das Nações Unidas (ONU). O título é concedido a práticas agrícolas sustentáveis que preservam a biodiversidade e os modos de vida tradicionais.
Segundo a ONU, o sistema paranaense representa “um raro exemplo de práticas agrícolas que preservam a cobertura florestal e, ao mesmo tempo, apoiam os meios de subsistência e o patrimônio cultural”.
Tradição e sustentabilidade em consórcio florestal
A erva-mate (Ilex paraguariensis), cultivada em meio às araucárias, cresce em um ambiente sombreado, em consórcio com outras espécies nativas. O engenheiro florestal Avner Paes Gomes, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, destaca que o cultivo garante benefícios ecológicos e sociais:
“O sistema de cultivo da erva-mate sombreada funciona em uma espécie de consórcio florestal, que produz a erva junto de outras espécies preservadas”, explica.
Saúde, cultura e economia
Muito além de seu valor agrícola, a erva-mate é uma bebida com propriedades reconhecidas. Seja como chá quente ou gelado, chimarrão ou tereré, a planta tem efeitos diuréticos, ajuda a acelerar o metabolismo, combater o colesterol ruim e prevenir o diabetes, de acordo com estudos científicos.
De origem indígena, especialmente dos povos guaranis, a erva-mate é parte de um ritual tradicional de socialização e reflexão, carregando consigo séculos de sabedoria ancestral.
No Brasil, a produção total de erva-mate chegou a 618,6 mil toneladas em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com destaque para os estados do Sul e parte do Mato Grosso do Sul.
Da floresta à praia: consumo cresce no Brasil
Embora nativa do Sul do país, o consumo da erva-mate se espalhou nacionalmente. Do chimarrão no Rio Grande do Sul ao chá gelado nas praias do Rio de Janeiro, a planta conquistou o paladar brasileiro.
Além do Brasil, a erva-mate é muito consumida na Argentina, Uruguai e Paraguai, consolidando-se como um símbolo cultural e alimentar da América do Sul.
Com o reconhecimento da ONU, o cultivo sombreado da erva-mate passa a integrar um seleto grupo de sistemas agrícolas sustentáveis e tradicionais do mundo, fortalecendo o papel do Brasil na liderança da agroecologia e da preservação cultural.